Curral do etéreo mundo
Da sequidão astral do meu pó
Jorra um sangue azedo e sem cor.
Que rancorosa res sou eu que
Espero depressiva no matadouro
Enquanto assassino sem pena
Outros incautos e inocentes bichos?
Desde que vi a ofuscante luz materna
Que os vermes imundos e sedentos
Querem comer a minha carne.
Guerras e rumores de guerras;
Refregas violentas e sem trégua,
Do fundo das células vivas
Ao grosso da carne quente e crua.
Pensamento é mola traiçoeira;
Que salta louca e desvairada,
Cegando minha alma de razão e dor;
Saber que também serei alimento
Para satisfazer a sede etérea
De falsos deuses desencarnados e cruéis...
Por não perder-me, transformar-me-ei
Em tudo o que haverá de ser vivo.
Enquanto me debato em desespero,
Garras agudas, caninos famintos,
Olhos atentos me espreitam do nada;
As coisas que não vejo movem-se
Superando em milhões de vezes
As coisas que estão presentes
Em minha assustada e estarrecida visão.
Eu penso estar no controle das ações,
Mas até a minha ração é controlada;
Engordam o meu espírito para comer
Nos finais de insanos e malditos ciclos.
Não sei mais a que a minha paz pertence;
Porém, agarro-me com unhas e dentes
Nessa vida, equação matemática;
De um grau irrelevante e sem nome.
Carlinhos Matogrosso