Sorrir o espanto
Tudo o que não verde folha, pedra.
Tem que chover no peito o pensamento,
Para ventar as palavras entulhadas
Nas calhas do destino rocha.
Se a tudo fica rio e vai para o mar,
Aí então a vida passarinho calma.
Não olhos em areia movediça,
Para não cegar as plantas.
Há que se ouvir palmeiras na praia, sem grilos;
Calado de água salgada,
Trêmula, vacilante e sem trégua.
Nas veias do mar há sague frio;
Dentro da gente, tubarões sonoros
Pairando por sobre o relógio quebrado.
Vestido de horas em tempo vadio,
Levanto galo e preguiça perdido em sono;
Ando às tartarugas marinhas afoitas,
Que, desesperadas, procuram abrigo
Fugindo da praia campo de batalha.
Existem árvores sorrindo folhas secas
Dizendo-me coisas como seivas elaboradas,
Mostrando-me o outono na alma que se decanta.
Por isso não sei ficar onça a vida toda,
Pois assim se perderia a foca doce e meiga
Que busca o etéreo para o meu ser.
Se você cicloneia em rodopiar mágoas,
Nunca mais vai beber na brisa calmaria,
Nem haverá de sossegar absoluto,
O paraíso da pele sedenta de luz do sol.
Carlinhos Matogrosso