As Sombras

Vão, apagadamente, abaixo da pele do mundo,

suas docíssimas formas.

Vão, anunciam violetas, acariciam paisagens,

curvam, gris, a colina.

Abaixo um céu de musgos, vão, apagadamente.

Vão, as sombras, os homens

que foram, que gritaram

acima, sôbre tôdas

as distâncias. Olmos altos, erguidos,

cortados já, marcas

do lenhador eterno. Vozes

sem voz.

Vão, vazias de tudo, vazia é a tarde agora

triste; ao poente de ouro, ao bafejo da brisa,

ao Angelus azul que da tôrre

se propaga. Tocam silêncio, saudade,

pisam caminhos que não voltam.

Vão vazias de tudo, vazias à luz,

vazia a sombra,

elas, as sombras, eternamente errantes

abaixo da pele do mundo.

2007/04/21