BALADA DO VÔO SEM REGRESSO (ou a morte por infarto)

Subitamente

O inesperado aviso:

A nave deseja partir.

Um leve sinal crescente a cada segundo

Irrompe agora agudo e forte

Triunfante

Como o soar de clarins

Da abertura de “Guilherme Tell”.

Ouvem-se então batidas surdas

Em disritmia

Agora mais fortes, mais intensas

Qual ruflar de tambores ou

Tropel de corcéis.

No momento da subida

A nave desgovernada

Sacoleja em desequilíbrio

Pelo excesso de pressão.

Há pane na ala esquerda

Uma dormência acentuada

Pela desoxigenação.

O comando é tomado de pânico

Emergência total

A pressão cai a nível crítico

A circulação é quase nula.

Num último esforço

Computadores ordenam força total

E a máquina obedece

O circuito sobrevém

Mas a tempo de vencer

A força da inércia.

E a nave projeta-se da atmosfera

Em subida celestial

Livra-se do corpo impulsor

E segue firme rumo ao desconhecido

No espaço infinito