HÁ DIAS QUE A GENTE SE PENSA... COMO QUEM JÁ PRECISA PARTIR...
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Tem dias que a gente se sente
como quem se despedaçou
ou vai morrer...
Tudo dói na pele
no sistema central ou na periferia
e percorre a nossa trajetória interior...
E a maledicência da sorte
na mente promove um furor...
A consciência perde toda a paciência
com os desmandos nos desmanches e às sucatas
que em nossas vidas só viram ferrugens de latas...
O fado fica mais melancólico
e o tango é o engodo e o fardo
que trancam os passos nos pés...
Os sapatos pesam e já não deslizam
ou patinam nos assoalhos...
Na boca os gostos de vinagre e alho
tiram-nos toda espécie de prazer...
Assim, venho-me sentindo,
qual uma bezerra tenrinhas no primeiro parto
experimentando dores jamais experimentadas...
E a pergunta que eu levo,
cada passo que falseio ao matadouro:
Será que eu preferiria ser uma vaca novilha
ou um forte touro bravio, mas acuado,
com o receio da machadada na cabeça
no tormento do cutelo?
Será que o homem só pensa na morte
à sua maneira de ideá-la lá pras brenhas do além...
Ou já a pensa enquanto há vida plena?