Todos somos reféns de algo ou alguém
Do sistema financeiro
e o detento
também do carcereiro.
Das concessionárias
e das coronárias, também o coração.
O pão é refém do trigo
e do seu abrigo, o castor.
A dor é refém do analgésico
e o paraplégico da sua cadeira.
O apaixonado, do seu amor.
O ator, do palco
e visto do alto,
todos e de tudo somos
ou ainda o seremos.
O mudo refém dos sinais.
Os pais reféns dos filhos
e vice-versa
e a conversa, refém,
de ter com quem conversar.
O trabalhador é refém
do seu trem passar
e também do seu patrão
mas como é bom ser refém
e poder também trabalhar.
O dia é refém do sol
até o entardecer,
quando é trocado
de esconderijo
e a graciosidade substitui
o calor.
O escritor é refém das ideias
e a plebeia refém
dos seus sonhos de princesa.
O político é refém do voto
até sermos reféns dos seus interesses
numa troca injusta
mas a justiça também é refém
da interpretação.
O interesseiro é refém da usura
e a sua amargura é refém
da sua falta de amor.
A vida é refém da morte
e sorte de quem morre feliz
pois a felicidade é refém da liberdade
e o ser livre é refém de tanta coisa
e depois dessa vida
ainda continuaremos reféns das nossas crenças.
Todas reféns também, no campo da suposição.
A teologia é refém da teoria
e até quem detém a sabedoria
é refém do conhecimento.
Quem não é refém de nada
e nem de ninguém
ainda nem nasceu
mas mesmo assim insisto
que é refém da mãe
através de um cordão umbilical.