O próprio tempo (I e II)
Interação muito privilegiada de minha parte com a poetisa Ana Bailune!
O próprio tempo - I
Eis
que as águas seguem
passando, em meândricos
movimentos, de novos rios
e “a gente”, correm;
e as montanhas descem
lentamente, abaixam-se
solenemente, curvando-se
e “a gente” se afirmam;
Eis
que as pedras rolam
em seixos, à gravidade
em seios, à intempérie
e “a gente” se fixam;
e as areias passam
nas ampulhetas, levadas
pelas águas, lavadas
pelo tempo, calmas
e “a gente” não.
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O próprio tempo - II
A gente não passa, como as areias,
Mas fica retida nas teias
Que o tempo teceu no caminho.
A gente não rola, como as pedras,
Mas fica no leito de um rio
De águas bem congeladas.
A gente não passa; só fica,
Tatuada feito estátua
Na pele de outras memórias...
Talvez a gente se lembre,
Talvez reste mais que a gente
Quando acabar a história.