O próprio tempo (I e II)

Interação muito privilegiada de minha parte com a poetisa Ana Bailune!

O próprio tempo - I

Eis

que as águas seguem

passando, em meândricos

movimentos, de novos rios

e “a gente”, correm;

e as montanhas descem

lentamente, abaixam-se

solenemente, curvando-se

e “a gente” se afirmam;

Eis

que as pedras rolam

em seixos, à gravidade

em seios, à intempérie

e “a gente” se fixam;

e as areias passam

nas ampulhetas, levadas

pelas águas, lavadas

pelo tempo, calmas

e “a gente” não.

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O próprio tempo - II

A gente não passa, como as areias,

Mas fica retida nas teias

Que o tempo teceu no caminho.

A gente não rola, como as pedras,

Mas fica no leito de um rio

De águas bem congeladas.

A gente não passa; só fica,

Tatuada feito estátua

Na pele de outras memórias...

Talvez a gente se lembre,

Talvez reste mais que a gente

Quando acabar a história.

Henrique Pitt
Enviado por Henrique Pitt em 14/10/2013
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