ARADO BICO DE PENA
Percorro o céu branco do papel sem pauta
Com um arado bico de pena
Sulcando em nanquim a lisa alvura
Que se nega a seguir imaculada e fria.
Rompo o silente cálice da virginal e fecunda silena,
Espalhando pétalas de sonhos
Em um perfume de brisa amena,
Que levado por rimados versos de candura,
Preenche pungente a paisagem vazia.
Desço rápido e pronto da celeste curva em alegria
Iluminando o negrume da noite
Com as luzes de original alegoria,
Condensando fonemas em relâmpagos de letras
Na vertiginosa ventania da poesia.
A enxurrada de cores que segue o arado bico de pena,
Colore a paisagem de oníricas cascatas
Formadas das águas de palavras-poema,
Que vertem todas em cadente e evocada harmonia
Para um mesmo vale de fértil aleivosia,
Traindo o isolamento do poeta,
Que na aridez do silêncio ficar não mais podia.