Goela Abaixo

Bebo o meu dia em doses homeopáticas...

Remexo as idéias para espantar a apatia.

Tudo acrescentado ao meu calendário sem razão de ser...

E para que fim, também, não sei.

Passo a minha vez na fila do supermercado.

Gado, me arrasto pela alameda.

Despida de um vestido de seda e um batom carmim...

Transeuntes passam por mim e sequer existo para algum.

Tum-tum do coração me denuncia viva.

Puro acidente do acidente da existência.

Hora extensa, difícil de engolir...

Embriaga-me o vinho e o sabor de fel.

Futuro cortinado em véu é imã que me atrai para si.

Não quero ir, não quero voltar e nem ficar.

Não posso permanecer, por que a lei do tempo é implacável...

Engulo, engasgo, tusso e tento me livrar...

Mas ai de mim, inútil cada ato que eu fizer...

Quanto mais me agito mais me aflijo...

Reflito o que não dá para ignorar...

Goela abaixo, não obstante ao gozo, o asco, o nojo,

o dia intrincado e malfadado...

ANA MARIA GAZZANEO
Enviado por ANA MARIA GAZZANEO em 04/10/2013
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