Goela Abaixo
Bebo o meu dia em doses homeopáticas...
Remexo as idéias para espantar a apatia.
Tudo acrescentado ao meu calendário sem razão de ser...
E para que fim, também, não sei.
Passo a minha vez na fila do supermercado.
Gado, me arrasto pela alameda.
Despida de um vestido de seda e um batom carmim...
Transeuntes passam por mim e sequer existo para algum.
Tum-tum do coração me denuncia viva.
Puro acidente do acidente da existência.
Hora extensa, difícil de engolir...
Embriaga-me o vinho e o sabor de fel.
Futuro cortinado em véu é imã que me atrai para si.
Não quero ir, não quero voltar e nem ficar.
Não posso permanecer, por que a lei do tempo é implacável...
Engulo, engasgo, tusso e tento me livrar...
Mas ai de mim, inútil cada ato que eu fizer...
Quanto mais me agito mais me aflijo...
Reflito o que não dá para ignorar...
Goela abaixo, não obstante ao gozo, o asco, o nojo,
o dia intrincado e malfadado...