Ata-me
Fico tonta quando respiro o cheiro do futuro
Quando este futuro já é presente rasgo meu pudor
Tento não entender o que me deixa rota
O que me deixa atônita, estranhamente atômica
Não quero decifrar nenhum mistério enterrado
Nenhuma senha lacônica e solitária me quer
Busco nem tentar me vestir com tuas dúvidas
Embaralho as cartas que ficam sob a mesa uma a uma
Sigo a seta sabendo o que tem dentro do minuto seguinte
Guardo o caroço da fruta que não têm sementes, dentes
Como verde a casa da árvore que o fruto não se deu
Quero só o sabor do momento em que te desnudas
Gosto de sentir teu calafrio de prazer tentando negar tudo
Enveneno o último gole da mentira que tenta enganar
Colho o gosto que exala de teus olhos depois que me tocas
Prefiro o fechar dos teus olhos nos meus olhos abertos
Agora, neste exato momento em que escrevo sou tua
Ata-me.