Onze Meias-Noites - Oitava Meia-Noite
Oitava Meia-Noite
31 de março de 2006
00:06h
Fecho os portões claros dos meus
Fatídicos clarões falsos
Em minhas moradas felizes
E abro o lacre de um portão
Cuja guarda fica sob
Uma poetisa muito amiga
Chamada Ana Torre
Da Garganta Cortada Sempre.
Byron canta tristemente
Uma melodia sombria
Para todos os suicidas
De gargantas cortadas.
Byron canta para Ana Torre,
Aqui à minha direita
Em minha morada cortada,
Guiando minhas mãos decepadas
Para contar a sua mortalha história,
Que não é uma história
De uma Heloísa amada
Por um Abelardo,
Que não é uma história
De uma Isolda amada
Por um Tristão.
Meia-Noite,
Oitava Meia-Noite,
Nasço em uma Meia-Noite!
Ana Torre
Tem a garganta cortada
Porque amou o vento
Que de lentas paisagens
Não quis derramar-se senhor
Das suas paisagens.
Ana Torre
Não
Chora
Não
Grita
Não
Lamenta!
Ana Torre
Da terra de Espanha
Conheci quando eu vivia
Sob traje espanhol
Como Lucas Villa Royal,
Poeta Lucas
Dos Negros Olhos Mui Tristes
Que Nunca Sorria.
Ana Torre
Não
Chora
Não
Grita
Não
Lamenta?
Ana Torre
Foi minha musa
Que não me via
E jamais foi musa
Daqueles que ela via
Com olhos d’alma
Embebidos de amor
Somado ao ardor
De mais dourado prazer.
Ana Torre
Não
Chora
Não
Grita
Não
Lamenta...
Ana Torre
Eu amei como Lucas Villa Royal
Ana Torre
Não me amou como Lucas Villa Royal
Ana Torre
Amou muitos com muitos ardores
Ana Torre
Não foi amada por nenhum dos que amou
Ana Torre
Sem amor cortou a sua garganta por amor
Ana Torre
Pelo amor retirou-se do véu material letal
Ana Torre
Sem amor
Cortou
A
Sua
Garganta
A
Sua
Pele
Que
Como
Lucas Villa Royal
Amei
Adorei
Amanhecia
Desejando...
Ana Torre
Não
Chora
Não
Grita
Não
Lamenta.
Ana Torre
Não me conhecia,
Eu
Era
De
Madri
Ela
De
Córdoba,
A conheci em viagem
A minha mais maravilhosa viagem,
Amei-a
Ana Torre
Amei-a
Vendo-a
Iluminada
Passear
Com
Graça
Angelical
Pelas
Ruas
De
Córdoba.
Ana Torre,
Não sou o seu confessor,
Não sou padre impotente
E nem amo ao Deus
Que você como grande cristã
Venera.
Ana Torre,
Não me conte vossa vida.
Ana Torre,
Não me conte as minhas vidas.
Ana Torre,
Não me conte nenhuma vida
Entre nós,
Nenhuma vida
Nos
Uniu...
Na Meia-Noite,
Nesta Meia- Noite,
Inspire-me a falar de ti
Como espanhola poetisa
Cuja poesia
É a mortalha história
De tua espanhola vida.
Ana Torre
Acaricia-me
E deixai-me
Acariciar-te
N’alma
Cortada
N’alma
Espanhola
Ainda
N’alma
Poética
Suicida
Para
Poetizar.
Ana Torre
Ouça Byron...
Ana Torre
Ouça o cantar
Cantar sombrio
De nosso amigo Byron
No Vale Dos Poetas Perdidos...
Ana Torre
Ouça o cantar
Entoado sombrio
Do nosso amigo Byron
Harmônico já na madrugada
A ecoar no Vale Dos Suicidas
Aliviando infinitos suicidas...
Ana Torre
Ouça Byron...
Ana Torre
Ouça Byron
Com sua voz triste
Por todos os Vales...
Sim,
Osbolos,
Não a leves,
Também
Ouça
Conosco
Na
Mãe Madrugada
Irmã
Da
Mãe Meia-Noite
O
Mais
Triste
Cantar
De
Byron
Jamais ouvido tão triste
Desde que choro sempre triste
Por
Todo
Vale triste...
Sim,
Ana Torre,
Meu suicídio
É não ter você,
Uma
Das
Minhas
Muitas
Musas
Encontradas
Que
São
Musas
Perdidas,
Tocada com alegria,
Alegria de poeta triste
Para poetisa triste,
Alegria que superasse
A tristeza de agora
Deste cantar triste de Byron
Por ti
Ecoando por todos
Os Vales...
Ana Torre,
Já cortei muito
A minha garganta
Em muitos Vales
Que hoje são
Limbos tenazes...
Suicidei-me muito!
Suicidei-me maldito!
Suicidei-me desgraçado!
Suicida
De
Eras
Esquecidas
Sou!
Sim,
Osbolos,
Deixai aqui comigo
Em todos os meus horizontes
De triste homem poetizando
Ana Torre Da Garganta Cortada Sempre.
Sim,
Osbolos,
Vá embora,
Chora pelas tuas tristezas,
Pois das minhas
E das de Ana Torre
Eu
E
Ela
Ouvindo Byron cantante
Choramos
Louvamos
Lavamos
N’almas
Aflitas
Nossas
Rotas
De
Suicidas
Sempre
Cortando-nos
Em
Todos
Os
Nossos
Eus...
Ouçamos Byron assim!
Ouçamos Byron assim lerdos
Em nosso agir,
Ana Torre...
Assim,
Ana Torre!
Esqueçamos nossos lentos suicídios,
Ana Torre...
Suicídios,
Ana Torre!
Beije-me,
Ana Torre,
Beijo
Da
Meia-Noite,
Beijo
Da
Madrugada...
Beijo,
Ana Torre!
Byron,
Inglês eterno maior poeta
De todo poema doador de vida
Onde morto esteja a alma,
Como tu cantas hoje
Nesta nossa Madrugada
Sucedendo a nossa Meia-Noite
Para a nossa Ana Torre!
Amamos a ti,
Ana Torre!
Todo poeta que é poeta
Ama-te,
Ana Torre!
Tu és deusa criadora
De toda tristeza criadora,
Ana Torre!
Alma triste,
Alma infeliz,
Alma da Mãe Poesia,
Como a minha,
Como a de Byron,
Como a de todo poeta,
Beije-me e a todos que aqui
Agora estão,
Dá-nos vossa tristeza alimentadora
Da nossa certeza de sermos poetas
De toda dor poética!
Ana Torre,
Sejas
Poesia!
Ana Torre,
Sejas
A
Poesia!
Ana Torre,
Sejas
Como
Poesia!
Ana Torre,
Sejas
Uma
Poesia!
Ana Torre,
Sejas
Sejas
Sejas
Sejas
Sejas
Ana Torre!
01:38h