Essências
Sonho o ideal.
Que não se encaixa no real.
As pedras semânticas falam pelo caminho.
E os fiapos de minha roupa
Tecem uma teia civilizatória esquisita.
E nos vestimos
de significados indecifráveis.
E as cores borram
nossa caligrafia genética.
Que já estava aqui
bem antes de eu existir.
Recolho metáforas espalhadas
na publicidade local.
Na cidade a torre de marfim vigia
o ébano extraído com sangue e dores.
As devastações e insônias
não despertam interesse.
Mas, morremos a cada queda.
Queda do cabelo, das unhas,
dos ácaros e das árvores...
Que se deitam sem berço explêndido
Ou verso nobre.
E as pobres máscaras que escondem
faces sem identidade.
Anônimos que desejam a história
Contada pelos becos.
Por gritos de corvos
diante do milharal.
Perante os espantalhos
autoritários ou imaginários.
Os fragmentos de desejos se perdem
em gestos e músicas de fundo.
Nos velórios frequentes
E tão frios.
A flor acabrunhada denuncia
uma primavera tardia.
Homenageia a alma que dissipou
E transmutou-se em outra essência.
Ainda não sabida.
Ainda não percebida.
Mas está lá.
Inexoravelmente.
Uma essência após a outra.
Em silêncio
tão exato quanto
o infinito.