Essências

Sonho o ideal.

Que não se encaixa no real.

As pedras semânticas falam pelo caminho.

E os fiapos de minha roupa

Tecem uma teia civilizatória esquisita.

E nos vestimos

de significados indecifráveis.

E as cores borram

nossa caligrafia genética.

Que já estava aqui

bem antes de eu existir.

Recolho metáforas espalhadas

na publicidade local.

Na cidade a torre de marfim vigia

o ébano extraído com sangue e dores.

As devastações e insônias

não despertam interesse.

Mas, morremos a cada queda.

Queda do cabelo, das unhas,

dos ácaros e das árvores...

Que se deitam sem berço explêndido

Ou verso nobre.

E as pobres máscaras que escondem

faces sem identidade.

Anônimos que desejam a história

Contada pelos becos.

Por gritos de corvos

diante do milharal.

Perante os espantalhos

autoritários ou imaginários.

Os fragmentos de desejos se perdem

em gestos e músicas de fundo.

Nos velórios frequentes

E tão frios.

A flor acabrunhada denuncia

uma primavera tardia.

Homenageia a alma que dissipou

E transmutou-se em outra essência.

Ainda não sabida.

Ainda não percebida.

Mas está lá.

Inexoravelmente.

Uma essência após a outra.

Em silêncio

tão exato quanto

o infinito.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 25/09/2013
Código do texto: T4496862
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