Viagem Ultradimensional (Parte III)
Um espelho de cristal materializa-se.
Meu Guia me conduz - "Vá descobrir-se!"
Transpasso o espelho, encontro-me sozinho.
Estou em um cemitério, sigo por uma trilha.
Um ser encapusado segura um baú aberto.
"Deposite aqui todos os teus tormentos!"
Caio de joelhos no chão, soluçando de dor.
O baú se fecha, o ser me ergue -
"Venha pegá-lo de volta, ao fim da viagem!"
Não mais caminho, mas flutuo.
O cemitério se vai, uma floresta surge.
Um passarinho verde, cantando, voa até mim.
"É você! Quem mais eu poderia encontrar aqui?"
"Curioso, você já ocupou teu baú, e eu estou aqui!"
"Surpreso? Você é meu passarinho, minha floresta, minha vida."
O passarinho transfigura-se numa grande águia negra.
"Guarda-me no baú! Eu sou o teu maior tormento!"
"Eu não vou desistir do maior bem concedido a mim!"
Surge o ser do cemitério, tirando o capuz - é o meu Guia.
"Ele já não faz parte de sua viagem! Coloque-o no baú!"
"Sem o passarinho, minha viagem finda. Corte o cordão de prata!"
Uma lágrima de sangue escorre no rosto do meu Guia.
"Não está na hora do cordão se romper, sua missão não acabou.
Mas sua escolha foi feita. Pegue teus tormentos, não mais volte."
Acordo.
Respiro lentamente.
O choro se recusa a sair de mim.
Minha escolha foi feita.
Minhas tormentas, nesse plano, não cessarão.
Amar-te-ei, passarinho, até que o cordão se rompa.