Onze Meias-Noites - Primeira Meia-Noite
Às
Meias-Noites
“Na meia-noite ocultam-se a morte e a descida aos infernos, como também a ressurreição e a ascensão”.
Hadés
Primeira Meia-Noite
01 de setembro de 2005
00:14 h
Canta Byron longe
Em uma longínqua taverna
Do Vale Dos Poetas Perdidos.
Meu nome nessa taverna
Ecoa como o som
De estridentes sinos.
Sou amado no vale
Pelas poetisas como Florbela
E desprezado nesta terra
De mortos não-poetas
Pelas não-poetisas cadavéricas.
Meia-Noite,
Primeira Meia-Noite,
Nasço em uma Meia-Noite!
Branca de Lóes
Me aguarda,
Mas Gilda Brahn
Já está aqui
Em minha silenciosa morada.
Branca de Lóes chegou
E perto de Gilda Brahn
Põe-se a falar comigo
Dos tempos antigos
Que vivemos.
Lembro-me de ti,
Bela Gilda dos olhos azuis-claros,
Poetisa de Amsterdan
Que amei quando eu era
Alfred von Martius.
Lembro-me de ti,
Branca rubra de pele morena,
Poetisa de Lisboa
Que amei quando eu era
Carlos de Oliveira.
Em quais anos amei-te,
Bela Gilda?
Em quais anos amei-te,
Branca rubra?
Como estou esquecido
Dos anos...
Mas de vós
Este vosso amante aqui
Não esqueceu-se!
Não briguem por mim,
Pois o meu poético coração
Nesta Meia-Noite
É de vós duas.
Tão poético coração
Declama versos
Que arrebatam os versos
Das constelações
Que não são tão belas
Brilhantes jóias no céu
Como vossos corpos,
Gilda
E
Branca.
Teu corpo é
A constelação da alegria
Do azul do teu ar azul,
Gilda!
Teu corpo é
A constelação da melodia
Do rubro calor teu,
Branca!
Mais poesia!
Mais poesia!
Mais,
Poesia!
Honorável Meia-Noite,
Hora da maior inspiração,
Obrigado pelos tesouros
Que me trouxestes,
Obrigado por Gilda,
Obrigado por Branca,
Estas duas
Amantes poetisas!
Éramos unos,
Gilda,
Nas noites estrondosas
Que tivemos pela Holanda!
Éramos unos,
Branca,
Nas noites glamurosas
Que tivemos por Portugal!
Lembro-me,
Minha Gilda,
Do frescor do teu
Perfume natural
E do lamber do teu corpo
Efetuado pela minha
Língua magistral!
Lembro-me,
Minha Branca,
Da doçura dos teus seios
Em minhas mãos
Todo encharcados
De um líquido divino
Que divinamente enfeitiçado
Eu saboreava!
Ouço Osbolos
A lhes chamarem,
Gilda
E
Branca...
Até um dia,
Amantes minhas!
Até um dia!
Até um dia...
Meia-Noite,
Que momento foi este
De lembranças distantes
De duas outras vidas distantes
Minhas?
Gilda não é mais
Aquela que toquei...
Branca não é mais
Aquela que toquei...
Nenhuma eu toco...
Nenhuma quero tocar...
Nenhuma nesta terra,
Encarnada,
É
Gilda Brahn,
Branca de Lóes,
Thérese Fontainebleau,
Brígida,
Songha,
Bruha,
Francesca,
Shel-Anum,
Belaya,
Adamásia,
Ingahatep,
Betha-Lopel,
Lamasa,
Fronda,
Todas,
Todas,
Todas
As poetisas
Dos cinco continentes
Que amei
E que me amam...
Muitas no vale me amam
E todas elas eu amo
Com um amor gigante
Que o gigantesco Infinito
Tenta medir
E não consegue
Mesmo sendo infinito.
Os nomes de todas elas
Preencheram infindos livros
E o que lhe digo,
Meia-Noite,
É que as tuas sombras
Querendo afogar-me
Afogarão tua própria
Onda de mensagens
Que pretendem confundir-me
Como
Poeta
Homem
Humano
Algo
Nada.
Canto eu aqui
Em minha silenciosa morada
Um silencioso cântico
De amor por Ti,
Meia-Noite sagrada.
Esta pena poética
De negra tinta
Homenageia nossa
Mãe Escuridão
A nos aproximar
Com Suas Mãos.
Sou de Ti,
Meia-Noite,
Pois a madrugada,
Madrugada minha,
Madrugada nossa,
Madrugada da Escuridão,
Bem próxima,
Aconselha-me
A não enganar-me
Com muita luz
E acolhe-me
Com as mãos borbulhantes
De outra luz.
A outra luz
É uma luz
Que o brandir
Dos faróis altos
Do porvir
Encontram no fim
Dos barcos pequenos
Navegando serenos
Pelos mares
Sem águas.
A outra luz
É outra luz
Que conduz
Outras luzes
Ao emanar
De um fim
Que jamais é
Um fim
No alto da janela
Onde morre a perdiz
Do aprendiz
De poeta.
A outra luz
É outra luz poética
De altas janelas
Banhadas pelos mares
Cheios d’água
Que brandem emanações
De faróis mortos
Que possuem vidas
Que são cantadas
Quando acabam
E recontadas
Quando reiniciam-se.
A outra luz
Apenas conhece
A Luz Da Escuridão
E tu que és
A Meia-Noite
Apenas conhece
A outra luz
Como guia
De toda
Mão poética.
A outra luz
É a tua
Meia-Noite.
A outra luz
É a tua poesia
Meia-Noite.
A outra luz
É o teu poeta
Meia-Noite.
Que luz
É a outra luz
Meia-Noite?
Que luz
É a tua outra luz
Meia-Noite?
Tenho mais encontros
Contigo
Nesta outra luz
Que também
Me ilumina
E guia minha poesia
E guia meu poema
E guia as letras
Que ouço
Que vejo
Que sondo
Que cheiro
Que degusto
Que gosto
Que amo.
Canta Byron longe
Lá no vale
E Florbela continua
A olhar-me de lá
Com amor poético
De amor eterno.
O amor de Florbela
É de mãe.
O amor de Florbela
É de mulher.
O amor de Florbela
É de amante.
O amor de Florbela
É de irmã.
O amor de Florbela
É de poetisa.
O amor de Florbela
É o de uma amiga
De dor
De suor
De lágrimas
De tristezas
De sonhos extintos
De extintos inícios
De inícios abortos.
Canta Byron...
Canta Byron...
Canta Byron...
Canta Byron...
E cantemos também,
Meia-Noite,
O cântico do Vale,
Do Vale Dos Poetas Perdidos
Que são vossos filhos.
Cantemos Meia-noite...
Cantemos Meia-Noite...
Cantemos Meia-Noite...
Cantemos Meia-Noite...
Que cântico
Cantamos?
Que cântico
É esse?
Que cântico
Eu ouço?
Que cântico
Meia-Noite?
Cântico de quem perdeu
O cantar de sua
Alma.
Alma
Minha
Cante
A
Meia-Noite.
01:26 h