MAIS QUE DESEJO
O desejo
desejou ser mais que desejo
e aproveitando o ensejo, criou um pretexto,
escorrendo onipotente por várzeas singelas
rasgando-se sem pudor, exalando um odor rubro.
O desejo desejou pernas
e, então, correu quase onipresente
por solos pobres, rachando-os sem temor,
exalando um odor negro.
Criou então mãos
e quis abraçar o mundo.
Mas este, sem odor nem pudor
e sem pretexto, devorou o desejo,
que entre mordidas fúnebres
exalava um odor inodoro, que tingia o ar oniscientificamente
da vontade vermelha de que tudo não passasse
de ser desejo.