MAIS QUE DESEJO

O desejo

desejou ser mais que desejo

e aproveitando o ensejo, criou um pretexto,

escorrendo onipotente por várzeas singelas

rasgando-se sem pudor, exalando um odor rubro.

O desejo desejou pernas

e, então, correu quase onipresente

por solos pobres, rachando-os sem temor,

exalando um odor negro.

Criou então mãos

e quis abraçar o mundo.

Mas este, sem odor nem pudor

e sem pretexto, devorou o desejo,

que entre mordidas fúnebres

exalava um odor inodoro, que tingia o ar oniscientificamente

da vontade vermelha de que tudo não passasse

de ser desejo.

Flávia Martin
Enviado por Flávia Martin em 11/04/2007
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