Anjo torto.

Fora do espaço, fora do tempo,

Sobre um impregnado chão escorregadio

Ele se arrasta. Chão?

Ainda bem que escorrega na gosma

Viscosa do limbo;

Senão, o que mais seria?

Sobre a sua cabeça, um céu...

No qual não se vê estrelas nem luas,

Na verdade nem céu,

Pois, se ninguém nunca viu, não existiu.

Para todos os lados uma escuridão

Tão espessa e palpável

Que nenhuma luz é capaz e rasgá-la;

Bate no peito feito vento forte.

Não é da vida nem da morte,

É algo que, miseravelmente se sente,

Porém, não se define.

Parece que sobre os seus ombros,

Uma cruz pressiona um calombo,

Rasgando o ectoplasma sem piedade;

Se fosse carne seria viva;

Uma asa atrofiada se debate.

Era, por ventura, para ser um anjo?

Talvez, mas não se pode afirmar que seria;

Simplesmente uma dor nas suas costas;

Ali nada tem forma, pode ser qualquer coisa

Que condene, mas nunca se contorne

Em serenidade ou perdão.

A dor não é dor de carne, não é câncer,

Tampouco peia...

É a ausência do sentido da própria dor

E da dor alheia.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 07/08/2013
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