Anjo torto.
Fora do espaço, fora do tempo,
Sobre um impregnado chão escorregadio
Ele se arrasta. Chão?
Ainda bem que escorrega na gosma
Viscosa do limbo;
Senão, o que mais seria?
Sobre a sua cabeça, um céu...
No qual não se vê estrelas nem luas,
Na verdade nem céu,
Pois, se ninguém nunca viu, não existiu.
Para todos os lados uma escuridão
Tão espessa e palpável
Que nenhuma luz é capaz e rasgá-la;
Bate no peito feito vento forte.
Não é da vida nem da morte,
É algo que, miseravelmente se sente,
Porém, não se define.
Parece que sobre os seus ombros,
Uma cruz pressiona um calombo,
Rasgando o ectoplasma sem piedade;
Se fosse carne seria viva;
Uma asa atrofiada se debate.
Era, por ventura, para ser um anjo?
Talvez, mas não se pode afirmar que seria;
Simplesmente uma dor nas suas costas;
Ali nada tem forma, pode ser qualquer coisa
Que condene, mas nunca se contorne
Em serenidade ou perdão.
A dor não é dor de carne, não é câncer,
Tampouco peia...
É a ausência do sentido da própria dor
E da dor alheia.