O Relógio
Meu relógio não mais é escravo do tempo
Meus olhos não mais querem ter a luz
Meus pés não seguem, nenhum caminho os conduz
Meus segundos são, desde já, mais um passatempo.
Meus lábios não cantam nem fala mais
Minhas mãos não acariciam mais qualquer um
Meu corpo arde-se e despe-se sem ficar nu
Minhas defesas não se defendem mais, ficam por trás.
Os segundos mortos na parede,
Tempo desleixado ao fiel,
Favo da colmeia sem mel
Aguardando a rainha dele.
Horas soltas dum relógio velho
Sem ponteiros nem formosura
Horas da mais intensa loucura
Reflexo do “eu” sem espelho...