Súplica num túmulo
Sob a luz do plenilúnio,
Na companhia dos defuntos
Que jaziam inertes nas telúricas tumbas,
Foi tomando por uma visão profunda,
E vi, pelos olhos vermiculares,
A decomposição da carne humana.
Pude sentir, no silêncio das sepulturas,
A putrefação das células moribundas,
E os eflúvios pútridos do que antes era redolência.
Quis compreender os propósitos desta mecânica nefasta,
E encontrei somente, em meio ao humos, a bílis amarelada
Vazando pelo túneis feitos pelos vermes.
Engulhado pela putrescência de meu destino,
Implorei para voltar ao mundo dos vivos,
Mas recebi somente o silêncio como resposta.
A agonia tomou-me por completo,
Quis correr mas não tinha pernas
E então notei, fitando a escuridão,
Que era meu corpo a refeição dos vermes.
Como se já não bastasse às nódoas da vida,
E nosso funesto destino sem saída,
Eu sentia a ânsia dos vermes e a dor da podridão.
Por meses fiquei a companhia dos seres inóspitos,
Sentido-os entrarem pelos meus olhos
E saírem pela boca.
Morte, semeadora dos defuntos,
Sempre chegando pelas portas dos fundos,
Levastes até mesmo os vermes que me faziam companhia.
Na frialdade dos ossos, choro, procuro uma saída,
Na solidão da natureza morta,
Tive um déjà vu, e senti como se já tivesse passado por esta vida.
Aquilo me apavorou e clamei a Deus por ajuda
Entendendo o que todos sempre disseram:
Que no fim de toda esperança, a Deus recorremos às súplicas.
Não sei se fora coincidência, ou milagre da divindade,
Pois acordei no banheiro de casa
Segurando nas mãos uma navalha
E as cartas que seriam para o meu suicídio…