Vidas da vida
Sei que não estou velho.
Muito menos cansado.
Mesmo que, algumas vezes,
me sinta doído de mesmice,
me flagre doido de dureza,
fechado aos encantos,
surdo de teimosia.
Vez em vez,
Tenho nos ossos a dor
cuja causa é o "progresso":
a mudança me parece tão alheia;
e o tiquetaquear das horas em ondas,
quebram por sobre minha carne.
A lama da estrada pesa em meus pés,
e, nas costas, a carga dos erros.
Na cabeça: a própria cabeça;
qual fóssil em rocha bruta;
tal pêndulo subestimado;
superestimado por mim.
Acontece que, chega uma hora,
em que o fio da vida arrebenta,
se enrosca em meu peito,
apertando, rasgando, libertando o coração.
Com o último suspiro
eu sopro o pó das emgrenagens.
Morto, mais uma vez.
Mas, porque busco a utopia,
Acordo novamente, descansado.