Qualquer coisa d'um rabisco
Na última folha de cada caderno,
As rasuras mais secretas
Os rabiscos mais poetas -
Os borrões de sonho eterno.
Não nascemos para sermos fortes.
Somos fortes porque nascemos.
Eu não nasci para ser poeta.
Sou poeta porque nasci.
E rápido descubro,
Na brancura do papel rubro,
As digitais dos sentimentos.
Que livre é a tarde...
A folha arde! A folha queima! A folha arde!
Eu vou bebendo pensamentos.
Sou velho nesta arte,
Mas não fico caduco.
Vejo musa em qualquer parte...
Na parte da arte
De ser maluco.
Isso mesmo,
Ser poeta
É a arte de ser maluco:
De dizer maluquices.
Escrevo o que eu nunca disse
Enquanto o sangue vira suco
Para a paz secreta
Sentida a esmo!
E os teus olhos inundam...
E os meus olhos inundam...
Nossas lágrimas se abraçam...
Nossos olhos se beijam...
Nossas bocas se olham...
Nossas vidas gargalham...
E a solidão é uma muralha -
Quer queira, quer não queira!
Mas a boca que gargalha
Pula o muro, pula a muralha -
Muralha de besteira.
Todos somos poetas
Quando sorrimos.
Todos somos poetas
Na última folha de cada caderno.
E viver feliz -
Por um triz -
Foi quase impossível.
Ah! Desenho do sorriso!
Vem abafar o som do rádio.
O rádio diz muitas coisas,
Porém quem é feliz
Não escuta rádio -
Escuta sorrisos...
Até porque as portas,
Quando fechadas,
Guardam em si o mistério do mundo.
Caladas, mudas, caladas,
As portas, em sono profundo,
Abrem-se...
Lá vêm os mistérios em gargalhadas!
O que não resiste ao tempo
Vai virando lembrança...
Eu não falarei das rosas,
Elas são cheirosas,
Bonitas e infinitas...
Eu quero falar da caneta
Que me leva para outro planeta
E que me faz desenhar um cometa
Nas asas de uma borboleta
Que traduz o teu coração.
Palpitações no peito
De um sonho perfeito...
Quando teu pranto é desfeito,
Nasce, no meu peito imperfeito,
Minha maior ilusão.
Eu verso as palavras
Que me são lindas
Como os rostos das meninas
Que são lindas
E musas confusas.
Eu amo escrever qualquer coisa
Que não seja coisa qualquer...
28/06/2013