O REINO DAS SOMBRAS (de "O Plasma")

O Verbo Divino não é estável

o suficiente.

O hidrogênio se esgota

cada vez mais rapidamente.

Nenhum ruído.

Somente buracos galáticos

vazios.

Nem um único registro

duradouro.

Somente o gás protoestelar

e sua permanência

periclitante.

O turbilhão ainda burburinha

sob os meus dedos,

arranhados.

Demônios e átomos —

irreal para-realidade,

filha bastarda da minha Inteligência,

cruel rebento da arquidivindade

distraída.

O resto é evasão e sombras.

Ruídos de fundo,

cruéis e

entrópicos.

Frio e medo.

A neve nas ruas

cobre

os dois corpos brancos

dos andróides mortos.

O autômato semi-destruído

não compreende

tal proposta

tola e aleatória,

e sintetiza

todo o desespero vital

de milhões de anos

desperdiçados

por esta raça

prepotente

e inútil.

As idéias colidem.

Advém

a constatação parassimpática

da monstruosa

verdade genética:

O crepúsculo dos Tempos,

a Noite dos Tempos.

Talvez

o mundo dos deuses.

Porém,

fenômenos cósmicos

de proporções

quase catastróficas:

universos inteiros

em compressão

e catalise,

em solidificação

e explosão —

laboratórios celestiais,

drenando combustíveis fantásticos

em túneis fantásticos

de energia...

plasma e antiplasma,

arrepio e eletricidade,

imensidão e dor.

Os metais fornecem

um ambiente favorável

para o Amor

e a síntese é o Amor

e depois a Poesia,

poética dos Estrondos,

da forma,

do fluído,

do drama,

da Vida,

da Morte,

dos poetas,

dos gênios

e dos gnomos.