SER OU NÃO SER
No palco
Sem eira nem beira
Você real, você só,
Desnudo, sem maquiagem
A cortina, porém, atrás da qual você se escondia
Era transparente, de filó
Os olhos que te veem
Te assusta
Você tenta fugir
Seu pés não lhe obedecem
Você disfarça
Você esbraveja
Você finge
Você ignora
Você se justifica
Você grita
Você se explica
Você chora
Você tem vergonha
Você se cobre com as mãos
Você quer morrer
Quer sumir,
Quer ir embora
Aquele não é você
Eles não sabem
Você não quer que seja
Você os encara
Pede desculpas
Mas o público é impassível
Você se revolta
Você os manda às favas
Você lhes dá as costas
Você se põe de cócoras
De repente, os aplausos
Eles te aceitam
Você pede que parem
Você implora
Não é certo
Não é verdadeiro
Não pode ser
È inverossímil
Há um vácuo em você
O teatro está vazio
Você se move
Você se odeia
Você se veste
Você bebe
Você escreve
Você conta para alguém
Com suas palavras
Você escamoteia
Você se renova!
Se alivia
Agora você é apenas o que você quer ser
Não o que você é
Então você se esquece e vive
Por que você sabe que o duro
Não é viver
O duro é ser!