Outsider

Meu pensamento absurdo

naufraga no mar de palavras

Morre sufocado pela semântica

óbvia da fonética escandalosa.

Há dores sem gemidos.

Há feridas sem sangramentos.

Há lutas, guerras e vencidos.

Cujos corpos não permanecem

estendidos no chão do apocalipse.

Quem vigia os vigilantes?

Quem guarda os guardiães de tudo?

E, se o tudo é nada.

Irrisoriamente nada.

Imaginariamente ausência,

espasmo ou silepse.

O engano não está no gênero.

Nem a unidade está no plural.

A consciência está exatamente

nesse pensamento

absurdo.

Que abortou a lógica.

Que assassinou a metafísica.

Que chutou a moral nas

partes íntimas.

E, riu da hipócrita ética dos miseráveis.

Meu pensamento absorto

Devora essa realidade tecnicolor

Essa comunicação fluída.

Chats, redes sociais e torpedos

Que instanteneamente

revelam o agora.

Mas não mostram

nenhum futuro.

Nem há mais perplexidade.

Não há mais nada.

Apenas o mormaço das ideias

A queimar a cara da poesia.

Esse invisível mundo.

Mudo, inepto e absurdo.

É apenas comum, banal

e cinicamente dialético.

Não digo tudo que penso.

Não sinto tudo que digo.

Não estou nessa geografia

vulgar e óbvia.

Sou confessadamente

apenas mais um outsider.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 01/07/2013
Código do texto: T4367420
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