Outsider
Meu pensamento absurdo
naufraga no mar de palavras
Morre sufocado pela semântica
óbvia da fonética escandalosa.
Há dores sem gemidos.
Há feridas sem sangramentos.
Há lutas, guerras e vencidos.
Cujos corpos não permanecem
estendidos no chão do apocalipse.
Quem vigia os vigilantes?
Quem guarda os guardiães de tudo?
E, se o tudo é nada.
Irrisoriamente nada.
Imaginariamente ausência,
espasmo ou silepse.
O engano não está no gênero.
Nem a unidade está no plural.
A consciência está exatamente
nesse pensamento
absurdo.
Que abortou a lógica.
Que assassinou a metafísica.
Que chutou a moral nas
partes íntimas.
E, riu da hipócrita ética dos miseráveis.
Meu pensamento absorto
Devora essa realidade tecnicolor
Essa comunicação fluída.
Chats, redes sociais e torpedos
Que instanteneamente
revelam o agora.
Mas não mostram
nenhum futuro.
Nem há mais perplexidade.
Não há mais nada.
Apenas o mormaço das ideias
A queimar a cara da poesia.
Esse invisível mundo.
Mudo, inepto e absurdo.
É apenas comum, banal
e cinicamente dialético.
Não digo tudo que penso.
Não sinto tudo que digo.
Não estou nessa geografia
vulgar e óbvia.
Sou confessadamente
apenas mais um outsider.