Polissemia
O caminho significa apenas um meio
O passo e o andar, uma ferramenta
Mas o meio e a ferramenta não bastam.
Meu imaginário riscado a giz.
Se apaga lentamente.
E, onde antes havia monumentos.
Só encontro escombros.
Onde havia antes mensagens
Só ouço urros.
Gritos insanos de guerra.
Da violência inepta a romper,
a quebrar e a fragilizar
o que é pobre e tênue.
Como parar tudo isso?
Como reconhecer que reconstruir
Não precisa ser do nada...
Fiz uma oração ao infinito.
Palavras ao vento para chegar
Aos ouvidos de Deus
Pedi perdão.
Pedi tanta coisa.
Pedi que na perdição da vida.
Encontre algum afeto.
Que no abismo exista luz ou
alguma aura sagrada
E que o silêncio derradeiro
Da absolvição de
todos os pecados.
Traduza a paz inalcançável.
Fuligem é a poesia do fogo
A brisa é a poesia do ar.
O orvalho é a poesia da água.
E a flor é a poesia da terra.
Cinza, azul ou verde
O lirismo se tinge de
arco-íris incompreensível...
Matizes de vida e prenúncio
de morte.
O caminho possui pedras semânticas.
O caminhar possui gestos humanizantes.
Então, a pedra fala sobre o caminho
E os passos delimitam o começo.
Do tempo volátil e táctil
Repleto de lembranças.
E de primaveras que se secaram
E se renovaram
Diante da polissemia.