APOCALIPSE

Deitei-me com o esquecimento.

Foi uma noite como tantas outras: esquecível!

Ao levantar-me o mundo estava em desnível

e eu, com um prumo na mão, mas sem querer usá-lo

observava tudo pelo caleidoscópio divino.

Eles corriam,

corriam de si mesmo,

atormentados pela sombra assustadora do que foram.

E eu ria um riso indecente

transformando faiscas em incêndio.

Os fetos se negavam a sair das entranhas maternas:

não ao mundo! não ao ser gente!

E como agente secreto, nesse gesto,

assassinavam suas próprias mães,

podres em seus úteros malditos.

E os homens felizes,

com os espelhos que restaram dos escombros,

nem se mexiam, nada faziam.

Médicos se escondiam atrás de suas máscaras

e roubavam as últimas moedas dos mortos-vivos.

Não havia fuga. Só havia fogo.

Era um mundo em alta combustão

esterelizando sua pior praga:

o homem!

Flávia Martin
Enviado por Flávia Martin em 02/04/2007
Reeditado em 02/04/2007
Código do texto: T434406