APOCALIPSE
Deitei-me com o esquecimento.
Foi uma noite como tantas outras: esquecível!
Ao levantar-me o mundo estava em desnível
e eu, com um prumo na mão, mas sem querer usá-lo
observava tudo pelo caleidoscópio divino.
Eles corriam,
corriam de si mesmo,
atormentados pela sombra assustadora do que foram.
E eu ria um riso indecente
transformando faiscas em incêndio.
Os fetos se negavam a sair das entranhas maternas:
não ao mundo! não ao ser gente!
E como agente secreto, nesse gesto,
assassinavam suas próprias mães,
podres em seus úteros malditos.
E os homens felizes,
com os espelhos que restaram dos escombros,
nem se mexiam, nada faziam.
Médicos se escondiam atrás de suas máscaras
e roubavam as últimas moedas dos mortos-vivos.
Não havia fuga. Só havia fogo.
Era um mundo em alta combustão
esterelizando sua pior praga:
o homem!