Mãos
Queria tocar-lhe as mãos
Sentir a rigidez de seus dedos...
As palavras que já foram escritas
A semântica envolta em névoa
contida exatamente na palma
de sua mão...
Queria sentir o toque de sua alma
Posando delicadamente sobre mim...
Sem sombras e assombros.
Trazendo o peso e o cheiro de seu corpo
Impregnando os lençóis de lembranças.
O álbum de retratos apagado
no canto da prateleira
Apontavam semelhanças e dessimilitudes.
Olhos que não podem mais olhar...
Mas meus olhos as miram ainda...
com extrema nostalgia.
O coração pendurado num prego
enferrujado
Manchou a parede.
Deixou rastros e estragos
por todo lado.
Queria sentir suas mãos
em minhas mãos...
Queria ter apenas suas mãos...
Mas seria inatingível.
Seria impossível.
Seria pecado ou heresia.
Queria tuas mãos nas minhas...
Queria minhas mãos nas tuas
E escrever a giz poesias
românticas
Versos torpes.
E bêbados de um lirismo qualquer.
Depois, ao se despedir...
Queria dar-lhe uma gota
do orvalho guardado pelas fadas..
Dar-lhe a fórmula dos duendes.
E acenar-lhe prosaicamente
Como quem visitou o passado
dentro da nave do pensamento
E trancafiada no sentimento
partido nas reticências do tempo.
E no silêncio das mãos entrelaçadas
Desatar os nós
que somos nós..