Interno frio de externo

De que servem todos estes aparatos,

cobertores velhos, todos os retalhos

de vida, de tempo e de espaço,

se sou eu o próprio frio epiderme

que arde sobre todos os concretos

enquanto a cidade dorme;

se sou eu o som dos passos

de algum ou qualquer sapato,

calçado apertado,

sobre a umidade de alguma calçada;

se há uma rua entre as duas,

se há esta rocha antropizada,

este rio imóvel de frio,

que tira do meu alcance

os passos frios da outra margem,

mesmo estando ao meu lado;

se a névoa fina dos meus olhos,

a que paira no ar gelado,

deixa o quarto embaçado,

deixa os gatos nos telhados

e os pés molhados,

não me deixa ver no outro lado, deitado,

o espectro orvalhado

que não sai do meu olhar

e petrifica quando tocado;

se não vejo estando me olhando

não sou o frio que sinto me tocando

se o frio que vejo, toco e sinto,

não sinto me sentindo.

Henrique Pitt
Enviado por Henrique Pitt em 04/06/2013
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