Ensaio Para Ninar Fadinhas
Onde está a fada Sininho?
E todos os passarinhos?
E todo o campo florido… flores branquinhas… miudinhas…
Que eu semeei para que tu passasses?
Quem desacompanhou-te da borboletinha?
Aquela! Das cores de todos os amores?
Ah… E os cachinhos negros dos cabelos teus…
Desmancharam-se…
Ao mesmo tempo em que eu dispo-me das minhas quimeras…
E despeço-me das tantas primaveras minhas…
E sorrisos tolos que eu nem mais sei dar.
Dantes, não sabia eu nem contê-los!
E hoje… são tão raros… tão raros…
E o meu outono aproxima-se… E depois?...
O inverno meu.
E não farei mais sol e serei noite escura…
Noite da incógnita existencial nossa… Tão estúpida!
E não terei mais tempo de semear-te nada!
E desespero-me! E esse tempo que voa!
E os teus lindos cabelos lisos… E os cachinhos espalhados pelo chão…
Apanho-os… Mas escorrem por entre os meus dedos…
E fecham a minha visão… E perfumam a minha vida…
E cantam um refrão de despedida! … Vozinhas vêm da minha mão!
És o meu norte, minha vida da minha!
A minha estrela da manhã… Luz da minha vida!
Desesperançosa sinto-me… Impotente! Oca!
Mas posso ainda soprar o vento e orar e implorar aos céus!
Que revolvam-se todas as ventanias dos lugares todos!
Arrebentem o céu da minha boca que pragueja o mundo!
Que pragueja a mim!
- Mas que faz juras de amor a ti…
Ventos fortes! Desmanchem as nuvens que teimam… Escuras! Pesadas!
Em fazer cair gotas de dores das minhas duas estrelinhas!
Venham para mim, todas as dores sórdidas! Podem vir!
- Que eu sou só amores a ti…
E forro hoje em teu campo florido de outrora, a minha roupinha surrada…
Para que tu passes no teu campo desflorido do agora… Não te machuques!
Caem gotinhas de chuva… Das minhas estrelinhas…
Destas… Que nasceram em tua face alva…
De mãos dadas às duas rosas cor de rosa… Uma em cada lado…
Encanto-me… Encanta-me tanto e amo-te tanto…
Face dos beijos meus e do esfregar ternamente na minha face - tua…
Face das mãos perfeitas do Grande Oleiro… que não te fez para chorar…
Onde largaste o teu travesseirinho dos sonhos?
Sonhos todos vestidinhos por mim… Mas não sonhei nada demais…
Só os sonhos de todas as quimeras… E canções de ninar…
E de poção em pozinho… a fazer bolhinhas sarar…
E secar… E secar… Eu sopro!
Tenho ainda aqui um pouquinho… no meu bolso do vestido dos sonhos!
Guardei-o para secar bolhinhas minhas! Nunca as tuas!
Seriam todas minhas! Era para ser assim!
E eu soprarei todas as tuas bolhinhas…
Soprinhos de amores! Soprinhos de amores!
E esta mesma boca que pragueja o mundo…
Que pragueja à mim mesma… solta à sorte… E Viva!
Continuará a soprar e a jurar amores eterno apenas a ti…
E vai sarar… vai sarar… essas bolhinhas vão secar.
Olha aqui, meu amorzinho…!
Olha quem retornou!
A Sininho! E a borboletinha multicores-amores!
E todos os passarinhos!
E olha! … Eles trazem sementinhas presas nos biquinhos…
E florirão campos de flores branquinhas… miudinhas…
Só a ti… brotarão as flores…
Para o meu amor passar.
Karla Mello
31 de maio de 2013