À LUZ DO ANOITECER (*)

Meus cabelos começam a embranquecer

como os campos cobertos de névoa,

meus dentes a cair como as folhas no inverno,

minha pele começa a adquirir a cor

do sol em fim de tarde.

Minhas mãos começam a ter forma de raízes,

cheias de fendas e curvas,

minhas costas adquirem pouco a pouco

a postura da árvore ao peso de tantos galhos.

Agora faço sombra aos jardins

onde as flores formam buquês a cada novo dia,

onde as borboletas perambulam de flor em flor

para escolher a mais bela e mais perfumada.

Minha alma, porém, ainda conserva sua luz

(a mesma de ontem, de hoje e de sempre)

e entrevê o fechamento da cortina

e tenta deixar em seu último ato

plasmado em cada olhar,

o pano de fundo da aurora,

como um grande abraço do amanhã.

(*) poema inspirado no belo poema "Matéria" da poeta Annabailune

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/4317029

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