Um deus de pó
Um deus de lata que prendeu
Uma ave de rapina
Virou diabo por gostar de ovelhas.
E todo mundo e até eu
Achou que era indecência;
E num piscar de olhos
Tudo o que era livre desaconteceu.
Na face do deus caboclo
De olhos estranhos e negros
Não tinha nada, nada de azul,
Nada de sangue, nada de nobre;
Tudo estava embotado
De lágrimas de inverno
Que rolavam da alma primaveril.
Agora o ser diabo nem parecia humano
Coisa que quase todo mundo é.
Gostam de ovelhas na tenra idade;
Mas vivem sob o crivo da maldade.
As ovelhinhas cantam de amor
E de terror de serem gostosas.
Não compreendem os intentos
Dos mutantes errantes
Eles se acotovelam aos milhões
Por um vitelo fresquinho,
Com a sua suculenta carne.
Mas o deus que foi castigado
Conhece de tudo a torto e a direito,
Com a ave de rapina no peito,
Tem toda certeza do instinto;
E sabe que ninguém dá jeito.