Um conto descontado
Um grito arrepiado e manco
Salta para dentro da boca cega
do espírito caduco e desumano.
A alma trôpega, cavalga a pelo nu
No dorso do cavalo de pau mandado.
Às vésperas de morrer de medo
O herói recusa a tarefa mais dileta,
Aquela que o lançaria na história;
O autor, narrador onisciente
Procura desesperadamente
Encontrar uma terceira pessoa.
As personagens se agonizam
Diante da iminente derrocada
Que seria descontarem o conto
Ainda no ninho, brotinho e frágil.
Nenhum provérbio chinês
Por mais absoluto e sério
Seria capaz de salvar aquela história.
O fio de ariadne era usado
Para costurar os descaminhos
Da antiga perdição babilônica.
Como uma tsunami, tudo se enredou
Para o labirinto do não acontecimento.
O papel, tábula rasa, jazia enfermo e febril
Enquanto as letras ardiam em chamas
E saltavam desorientadas em uma nova sintaxe;
Em um sentido contrário e multi facetado
Que sorria de tristeza e abandono
Por não ser nunca compreendido.