Às vezes, a gente se cansa
De aparar arestas,
Consertar buracos,
Emendar sonetos
E tapar as frestas.
Então, aprendemos
Que a melhor escolha,
É não escolher,
É se recolher,
Não mais opinar,
Não se aborrecer.
Às vezes, a gente percebe
Que o momento passa,
As portas se fecham,
Se empenam, emperram,
E que já não há
Nenhuma abertura.
O melhor é deixar
Lastrar a loucura,
Fechar bem os olhos,
Esquecer as rimas,
Maldizer a métrica
E a harmonia.
Às vezes, as ervas daninhas
Tapam para sempre
Tudo o que restou
Daquele caminho
Voluntariamente
Não mais percorrido.
A distância é tanta
Que já não se cobre,
Que já não há passos,
Apenas espaços
Já intransponíveis
Entre os frouxos laços.
A emenda e o soneto
Já não se conhecem,
E o poema cai
Natimortamente
Na página branca
Sem rima, sem graça,
Lamentavelmente.