Fase azul
É azul.
É profundamente azul.
Azul de doer a alma.
De pedir o tom vermelho encarnado.
Numa luxúria diabólica.
É azul,
riscado de branco,
riscado delicadamente de negro
Os ventos tingem de metileno
o horizonte tardio
Onde pousa o pôr do sol.
A estrela inquebrantável.
De fulgor e calor vitais.
A estrela de vida inteira
que incandescente
mantinha meu corpo tépido,
mornamente vivo.
Ou medianamente morto.
Arroubos, ímpetos e élans
Já não existiam mais...
A racionalidade tinha tomado enfim o corpo.
E abduzido a alma.
Cores, frestas e estações
coloriam com a proeza mecânica
das previsões meteorológicas
Chove hoje.
Chuva miúda.
Chuva acanhada.
Encharcada de azul e tons
indizíveis.
Meu corpo minusculamente azul
Me transformava em inseto.
Mas, meus pensamentos eram paquidermes
pesados e sensíveis...
E minha malícia,
era como um camundongo que fugia
da morte certa.
Nesse imenso azul insensato.
Minha alma jazia em tons pastéis.
Gemia perdida entre tantas propostas de luzes.
A flor do jardim lá fora estava desbotada
de outono
E aguardava em silêncio,
Um inverno úmido, arredio
e ainda cianótico.
Que sejam sagrados todos os azuis.
E, a mestiçagem de cores e gente.
Tudo é tão humano e tão colorido.
Que nos apresenta
a mestra diversidade.
Diverso, perverso e celeste.