NOITE
Não há nada nessa noite
Que te encante
Que te afoite
A não ser o leite negro
Que desce
Pela pedra
Do teu rosto...
Teu desgosto me acorda,
Me mantém alerta, à porta,
Olho a lua
Mais que aguada,
Tão branca,
Dentro da noite,
Que não te deixa um só espaço,
Nenhum lugar ou regaço
Onde amoites
A verdade das tuas dores!...
Nada há que te preencha,
E a pedra da tua face,
E o vidro dos teus olhos,
E o corte no teu peito,
E o leito onde te deitas
Serão frios nessa noite...
E mesmo que tu coites,
Loucamente, em desespero
Nem mesmo prazer haverá
Na tua sofreguidão;
Pois o amor, no fim será
Mais um que te desacoite!
Não; não há nada nessa noite
Que te encante,
Que te afoite!...