O ARREBATADOR DE OVELHAS

Deram-me sacos de plástico negro cheios de tripas

Sou colecionador de entranhas

Deram-me seringas de plástico cheias de sangue

Sou vampiro hematófago

Deram taças de vidro cristal cheias de veneno

Não bebi, não sou idiota

Deram-me uma igreja de alvenaria cheia de fieis

Sou um falso profeta arrebatador de ovelhas

Deram-me uma mulher parideira para gerar uma prole

Sou aquele pai de vários filhos

Deram-me um bornal de lona cheio de pedras

Sou aquele que apedreja pecadores

Deram-me um instrumento de cordas para produzir som

Sou aquele que ama o silêncio

Deram-me óculos de lentes de grau para ver maior o mundo

Sou um homem que evita o lixo

Deram-me uma casa onde morar

Sou um andarilho eremita

Deram-me o direito de perdoar e condenar

Sou aquele que não julga ninguém

Deram-me o poder de atenuar a dor

Sou a própria dor dos enforcados

Deram-me pesadelos em vez de sonhos

Refugiei-me naquele que é o Pai!