Testemunho de um bêbado II
Prazer e amarguras:
Nem tudo valeu.
Porém, nas tonturas,
Eu tenho meu céu.
Feitiço de louco
Que queima a garganta...
Eu fico bem rouco
E a paz se levanta.
Visões vão surgindo:
É clara verdade.
O mito mais lindo
Na luz da cidade...
O amor qu'eu demonstro
Por minha cachaça
É sádico monstro
Que traz ébria graça.
Eu vejo princesas
Na luz das esquinas:
São tantas belezas
Nas ruas meninas...
Meu pé, já de botas,
Descansa nos ventos...
São tão idiotas
Alguns pensamentos...
Esquinas, perigos:
Nem tudo se esquece!
Perdi os amigos
Nos tempos de prece...
A lágrima traz
Imagens de amor:
Um lábio fugaz...
Seu doce sabor!
A única dama
Qu'eu quis como minha.
Princesa - na cama...
Na vida - rainha!
Estrelas eu vejo:
Um som me alucina!
É a voz do desejo
Por minha menina...
Eu bebo bem mais...
Na vida de um jogo,
Paixões são normais:
É chuva de fogo...
Bebendo me esqueço
Do que já não lembro.
E assim reapareço
Naquele Novembro...
Cachaça que desce
Trazendo visões.
Prazer que adormece
Trazendo ilusões.
A luz que me prende
Apaga-se logo.
O sono se acende:
No chão eu me jogo...
Um vivo já morto...
Um morto inda vivo:
No meu passo torto,
Sou livre e cativo...
Dormindo acordado,
Acordo sonhando...
O céu estrelado
Já vem deslizando.
Estrelas formosas
Nas pálpebras velhas.
Estrelas ou rosas?
Serão sobrancelhas?
Na mão da calçada,
Eu sempre adormeço.
A noite estrelada:
De tudo me esqueço...
E assim vou vivendo:
Bebendo cachaças...
Já tudo esquecendo...
Lembrando mil graças...
01/05/13