"O muro"
É tanto desalento subindo o muro
tantos cartazes úmidos desfolhando-se
mensagem apagando-se da memória...
Quando ressurgida as entranhas em tijolos
abriu-se querendo ser vista ... viu-se sem demora...
Barro e concreto ... choram
pedintes por um olhar que abranda
um afagar que acalma
escorrem e emboloram, musgo acompanhante
rastro do abandono da palma, a mão abana
Mesmo diante do lodo indeciso
querendo estar aos pés de quem anda
escorregadio mas, vigilante
gritam os buracos, fendas no muro
cortes, dor, vazio sem rumo .. eco ali por detrás do muro
nada, absolutamente nada, acorda o mundo
Mas, neste momento de agora, nada mais importa
passa, mais um passante, observatório ... o muro!!!
Olhos que atestam o fechar do tempo e a solidão das mãos
o grito e os lamentos e o calar na multidão
Silêncio que é grito em meio ao alarido, pois apesar de mudo ...
sabe-se que em algum lugar vive ali o abandono do nós ...
concreto, tijolos, barro, buracos, ecos ...
... em gotas ... O muro!
- Kátia Golau Cariad -