Se eu fosse famoso

Se eu fosse famoso por não ser famoso

Falariam do que eu amava

Das brasilidades e brasileirismos

De ver e ouvir o Chico, a Elis, Caetano e Gil

Que andei moderno anacronicamente

E insistentemente mixando as épocas

Se fosse cansado de não ser famoso

Diriam que num lance de decrepitude artística

Eu tarantinizava o Bergman

Sobrepunha as caras de João Grilo e Gonzaga

Carnavalizando os blues de Lenine

Com naipes dissonantes dos jazzes do Guedes Peixoto*

Se eu ecoasse mudo nas surdas lembranças anônimas

Faria ouvir a rouca voz sem mídia

Das austeras veias das raízes pernambucanas

E num sonho ansioso de que os sentimentos fossem compreendidos

Flanaria sob a forma de estandarte em translúcido HD

As artes que eu notei convertendo o céu em painel colorido

*(Maestro pernambucano autor de arranjos à frente do seu tempo)