Nunca Disse...
O olhar marejante,
Enquanto a boca repete:
"Nunca disse..."
A escrita apagada,
A ofensa velada,
A mesmice
De cada palavra.
A dor tão repisada,
O escárnio crescente
De quem nunca,
Jamais, se arrepende
E nem aprende!
Mostra a testa sangrada,
Com a voz embargada...
Mas esconde na manga
O punhal afiado
Com que golpeou
Um coração
Já estraçalhado!
Ah, e a praga rogada!
E vagueia na noite,
Segurando o chicote
E clamando: "Nunca disse!..."
Enquanto prepara o velho bote...
Letras apagadas,
Palavras guardadas
Mas jamais esquecidas
Pelos olhos que as leram.
Quem, no pior momento
Quando a vida mais dói
Recebe a cusparada,
O escárnio, a pisada,
Jamais há de esquecer.
No entanto, repete:
"Nunca disse!..." - e se acua.
Mas quem leu,
Na alma escreveu
Com todas as letras
Que a maldade tatua.