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Nunca Disse...


O olhar marejante,
Enquanto a boca repete:
"Nunca disse..."
A escrita apagada,
A ofensa velada,
A mesmice
De cada palavra.

A dor tão repisada,
O escárnio crescente
De quem nunca,
Jamais, se arrepende
E nem aprende!

Mostra a testa sangrada,
Com a voz embargada...
Mas esconde na manga
O punhal afiado
Com que golpeou
Um coração
Já estraçalhado!

Ah, e a praga rogada!

E vagueia na noite,
Segurando o chicote
E clamando: "Nunca disse!..."
Enquanto prepara o velho bote...

Letras apagadas,
Palavras guardadas
Mas jamais esquecidas
Pelos olhos que as leram.

Quem, no pior momento
Quando a vida mais dói 
Recebe a cusparada,
O escárnio, a pisada,
Jamais há de esquecer.

No entanto, repete:
"Nunca disse!..." - e se acua.
Mas quem leu,
Na alma escreveu
Com todas as letras
Que a maldade tatua.



Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 14/04/2013
Reeditado em 09/08/2013
Código do texto: T4240296
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