Sombra de Dromedário
No colo adormecida
tombou boleada a sombra do Dromedário.
Ao lado, corre em baba, o lago. Fio a fio, esquecido
de ser rio. No sangue do ventre, borbulham alvoradas
d’ofídias urgentes. Expedidas do livro antigo das Horas.
No tal em que sombrios cavalos galopam
na voz das esporas.
Em que Unicórnios cavalgam o pranto de turquesas águas,
sempre quietas, sempre paradas, dum aquário.
Cerro a invenção.
Aborto a memória. Olho o Mundo coalhado, de lado e frente.
Impúbere, remoçado. É Primavera! Subo-o a pulso,
no refluxo dos cinco sentidos. Subo e desço, e de novo subo,
e de novo desço. Sem principio ou fim, na busca de mim...
Olho a sombra tombada a meu lado... O Dromedário dorme
acordado. A sombra canta (ou pranta?) .... É Fado!!!
Tudo é simples,
é tão evidente, quando dos montes os olivais se afrouxam
d’algemes. Se libertam no choro macio da pedra das fontes.
E na larga planície,
lá dos corrais se soltam à solta, do bucho e da boca,
carpidos, lamentos, nas vozes dos animais. A tremer de frio...
E se libertam lá nas montanhas as alcateias...
e acasalam em cio nas loucas noites de lua cheia ...
E todas as súplicas, em sintonia, são anotações
da maior loucura. Estripam as veias, lagos e luas
em lúgubres danças. Trevas crianças, envoltas em linho fresco.
Ilusórias sombras, seda carmim. Sede de mim!