PARANÓIA
Existe um nazista na minha escada,
E eu tenho certeza da sua intenção,
Posso ver sua sombra projetada na parede,
Imensa, sombria, hedionda ao extremo.
Pela fresta da porta eu o observo, atônito,
A negra suástica brilha no seu uniforme oliva,
Sinto o pavor invadir minha alma indefesa,
Esgueiro-me, trêmulo, para dentro do quarto escuro.
Eu ouço o ruído do seu fuzil nos ladrilhos,
Um som frio e cadenciado como a sua paciência calculista,
Ele me espera impassível, aguarda o meu peito,
Para enchê-lo de chumbo, extravasar sua perfídia.
E eu me sinto acuado, o coelho do próximo jantar,
Com os nervos à flor da pele e a aflição escorrendo pelo rosto,
Não tenho como reagir, me agarro à esperança de um milagre,
Ou ao aliviante despertar de um pesadelo noturno.