Apenas Tons de Cinza
Amanhece
Pássaros acinzentados cantam em árvores sem vida.
Opaco, o sol já não tem o mesmo brilho de outrora.
Sinto o putrefato odor das flores invadir meu quarto.
Da janela contemplo imensas nuvens escuras.
Que assombrosamente cobrem um céu sem luz.
Entardece
O almoço sem sabor desce forçosamente goela abaixo.
Insosso, como sempre tem sido tais momentos.
Até os melhores manjares e os tropicais sucos,
Já perderam seus atrativos, o aroma e a doçura.
Perambulam os meus olhos, porém nada me seduz.
Anoitece
Buzinas, faróis, barulhos de máquinas e gente,
Tentam em vão dissipar a escuridão que é chegada.
A ruína espreita como um faminto lobo solitário.
Vitrines em tons de cinza refletem a dor que me tortura.
Destroçado e vazio, eu trajo gris e uso capuz.
Madruga
Pessimista, vãmente enfrento a vampira insônia.
O medo, aliado à insegurança e vestido de fracasso,
Deita a minha cama como se fosse minha amante.
No poço jaz a autoestima, em sua gélida sepultura.
Zombam os incautos, cercam-me hienas e vis urubus.