DOIS COM DOIS

Eu sou uma

e tu outra criatura

Por mais que nos unamos,

somos duas

Assim vivemos em busca

da exatidão dos nautas,

arando estrelas virgens

e anjos de outras eras;

a deglutir o fogo, a água

ou ares de outras terras,

a despertar sementes

em pedra preta e dura

Por mais que remendemos

inevitáveis horas,

há sempre o perguntar:

onde estão os passos da amiga?

onde os seus gestos?

em que desvios descobrirei

sublime e arcanjo rosto?

E passo meus momentos

somente a escancarar

fecundações de pedra

e lesma solta em gosma

em plena festa persa,

inca, lusa ou maia

Por entre vacas mudas de mugidos

e éguas fecundando em pasto solto,

engulo os dissabores e inevitáveis dores,

mascando a gema, o sal e outras feridas

Fico a cantar-me em glórias,

ora, pois, pois,

a rimar-me e a somar-me

dois com dois