Chuva elétrica
Tempestade de raios
Clarão além das nuvens
Som que estreme
E troveja os vaticínios
da natureza
Tempestade de ventos
Voa pensamento, voa folha,
Voa alma mundo a dentro...
Voam pássaros, voam panos e tecidos
Nos varais e nas esquinas
Nos umbrais e nas arestas
Nas volúpias e agruras
Da vida casta e mundana.
Tempestade de raios
A eletricidade divina e devastadora
Sopra a eternidade sub-reptícia
de tudo...
O pó elementar da criação.
Está agora em toda parte.
Disperso e convexo no panorama
humano e errático.
Um raio racha ao meio o céu
E vocifera as verdades da morte,
dos valores transcendentes
do além mar,
do além quimera,
do aquém memória...
Coisas que fazemos
E que não lembramos...
Coisas que lembramos
E que não fazemos...
Há uma ausência absoluta
diante o raio.
Segmento vetorial poderoso
Que liga o céu e a terra
Por tortuosos caminhos de
redenção e grandeza
Tortuosos caminhos roubados
da natureza.
Matas devastadas...
Animais extintos...
Criaturas sem alma...
Corpos retintos pelo fogo,
Pela eletricidade percorrida e
diminuídos em sua humanidade.
Em sua aparência esmeradamente
frágil e constantemente
pueril.
O raio mostra ao homem o éter
E, o homem mostra ao raio, seu medo.
Injusta troca.
Insana consciência de finitude.