Saturno
Lá fora, saturno se exibe cheio de anéis
e sem dedos
O espaço sideral é imenso
e silencioso
Da janela se enxerga asteroides,
galáxias distantes.
Há promessa de vida espalhada por
uma imensidão desconhecida
A bruma da praia é menos
que uma poeira cósmica
é muito pouco mas é inesquecível.
O seu retrato sobre a mesa
Encara-me com desdém...
É muito pouco mas é esquecível
Nosso pensamento é viajante
Entra em naves sem roteiro traçado.
O infinito é para o pensamento
A mesa, o pano de fundo e o objetivo...
As vezes queria parar de pensar.
Cristalizar o momento.
Pintá-lo, fotografá-lo,
retê-lo definitivamente
em minha retina
Torná-lo um monumento
indestrutível...
Inesquecível...
Somos meros mortais
E tudo passa.
A certeza científica passa.
A genética familiar passa.
A estória da história passa.
E os registro ficam...
A palavra permanece.
A fonética enviada para o infinito
O gesto enviado para o espaço
A espalhar pequenas e irreconhecidas
Partículas de pele, de pedra e de nada.
Mas vem o vento
E desconserta tudo
E anuncia mais um outono...
Sem direito as flores da primavera
O poema de agora orna os anéis de saturno
Conhece as luas de Júpiter.
Vai até Plutão e volta
Incólume...
Embarcado num lirismo irresistível
Numa barca sem âncora
Perambula pelo horizonte
Procurando outros horizontes
Entre mortos e feridos.
Se salva a palavra
Se salva o humano,
O apenas veramente humano.
O superlativo humano e falho.
O diminutivo humano
em face do cosmos.
Se salva minimamente
Saturno.