ADORMECER
Eu vi que as coisas simples me tocaram...
Eu vi que as coisas simples me levaram...
E simplesmente então adormeci.
Em sonho, vi a lua me beijando -
Lunático dos sonhos delirando...
Eu vi que as coisas simples eu senti.
Em sonho, vi o chão febril de flores
Enquanto as folhas brandas dos amores
Voavam pelo vento de ilusões...
As brisas eram todas perfumadas!
As nuvens eram todas desenhadas!
Ali se ouviam choros de violões...
Ouvindo os sopros d'uma tarde santa,
Eu vi o firmamento, que não canta,
Desabrochar-se em pétalas sonoras!
As pétalas cantavam seus amores
Enquanto o céu, a desabar em flores,
Fazia-se num turbilhão d'auroras.
Surgiam flores brancas nas varandas...
As pétalas brincavam nas cirandas...
Havia ali murmúrio de folhagens.
E de repente o chão se abriu em plumas -
Foi quando me perdi no rol das brumas
A ver sumir a sombra das imagens...
Chorei... E assim senti um doce agito:
Senti que abri as portas do infinito...
Brilhavam meus acordes faciais!
Chorei... Pois nada expressa o que senti,
Senão o pranto ousado que bebi...
As lágrimas são todas imortais!
Nos braços d'uma santa calmaria,
Adormeci gentil naquele dia
Ao som de chuvas calmas e serenas.
As coisas calmas são serenas brisas!
O vento encontra o som nas cordas lisas
E traz o sono às pálpebras pequenas...
Os pássaros cantavam suas calmas
E aquilo me tremia pelas palmas:
Dissolução fantástica das ânsias.
O céu, cheio de nuvens, desabava...
O chão, cheio de pétalas, guardava
A dança d'umas vagas ressonâncias!
A negritude clara do Universo
Pousava sobre o meu jardim de verso
Enchendo, de estrelinhas, as pupilas.
Senti clarões astrais nas sobrancelhas -
Tão doces como os doces das abelhas!
E despertei nas pétalas tranquilas...
E vi que as coisas simples me tocaram...
E vi que as coisas simples me levaram...
E logo a luz do sol descortinei.
Em vida, vi as flores me abraçando -
Poeta adormecido despertando...
Eu vi que as coisas simples abracei!
11/02/13