MEUS MORTOS VIVOS
Meus olhos são dois pântanos alagados e frios
De tanta mágoa já derramaram em prantos
Todas as mães d’água dos rios...
O que eu mais fiz de errado
Foi esquecer teu rosto mirrado
Á torto e a direito e hoje sinto no ar
Teu beijo caudilho a me lambuzar
Da brisa onde morro da avalanche afogado
Nas lágrimas que no meu rosto pisam
E saem libertas deslizando em um tosco reprimível
Neste mosto encarcerado a contragosto por ti lembrar
Quando fluidas saírem pelo meu encosto transmissível
Nelas me sinto livre pelo que não pude amiúde ser servível
Desejei serem meus dias de agosto em azotados gozos
Pelo sêmen que nela em vultosa contração chorei
Lágrimas secaram na fonte que pisei
Afoguei-me nelas que me engravidam a mente pertinente
Em ser no estar das coisas inconsequentes a me perturbar nos sais
Insurgem-se e quando penso nelas ressurgem-se em emendas
Mais as flores cálidas nos trazem de volta a contenda
Das lágrimas que um dia derramamos escorridas das fendas fecais
E as depuramos nesses umbrais do jardim do sofrimento
Quando te fores então para onde as flores choram sem raízes
Plantarei um pé de saudade
Junto aos espinhos entrincheirados de minhas pétalas cicatrizes
E me lembrarei das horas vividas e felizes
Que muitas vezes olhamos pela moldura da janela
E não percebemos quem está dentro desta morada
Que o mundo descora e acelera
E quem de fato está do lado de fora do amanhã da quimera
Ou dos fanais de outrora em que procaz o sol que sai
A pálida mente que descora no convento das horas que não passam...
Assim é como acontece por este sutil espaço do intento que se contrai
Será que estavam fora ou dentro para nos receberem
Para este frio abraço detento do tempo que nos trai.