MEUS MORTOS VIVOS

Meus olhos são dois pântanos alagados e frios

De tanta mágoa já derramaram em prantos

Todas as mães d’água dos rios...

O que eu mais fiz de errado

Foi esquecer teu rosto mirrado

Á torto e a direito e hoje sinto no ar

Teu beijo caudilho a me lambuzar

Da brisa onde morro da avalanche afogado

Nas lágrimas que no meu rosto pisam

E saem libertas deslizando em um tosco reprimível

Neste mosto encarcerado a contragosto por ti lembrar

Quando fluidas saírem pelo meu encosto transmissível

Nelas me sinto livre pelo que não pude amiúde ser servível

Desejei serem meus dias de agosto em azotados gozos

Pelo sêmen que nela em vultosa contração chorei

Lágrimas secaram na fonte que pisei

Afoguei-me nelas que me engravidam a mente pertinente

Em ser no estar das coisas inconsequentes a me perturbar nos sais

Insurgem-se e quando penso nelas ressurgem-se em emendas

Mais as flores cálidas nos trazem de volta a contenda

Das lágrimas que um dia derramamos escorridas das fendas fecais

E as depuramos nesses umbrais do jardim do sofrimento

Quando te fores então para onde as flores choram sem raízes

Plantarei um pé de saudade

Junto aos espinhos entrincheirados de minhas pétalas cicatrizes

E me lembrarei das horas vividas e felizes

Que muitas vezes olhamos pela moldura da janela

E não percebemos quem está dentro desta morada

Que o mundo descora e acelera

E quem de fato está do lado de fora do amanhã da quimera

Ou dos fanais de outrora em que procaz o sol que sai

A pálida mente que descora no convento das horas que não passam...

Assim é como acontece por este sutil espaço do intento que se contrai

Será que estavam fora ou dentro para nos receberem

Para este frio abraço detento do tempo que nos trai.

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 05/03/2013
Reeditado em 07/03/2013
Código do texto: T4172050
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