A sereia e o pianista

Aquele que foi visto dançando

Alegre a festejar

Aos olhos deles era insano

E foi atirado no mar

E o homem que tocava piano

Saiu correndo do bar

"Que ato mais desumano!"

pois-se o pianista a gritar

Mas era surdo o bando

Nunca poderiam escutar

A música do alto serrano

Que o jovem queria dançar.

Vingança de sua paixão

Por tamanha agressão

Os surdos de coração

Podem ouvir sua canção.

O pianista virou e viu

Uma jovem na beira do cais

De semblante belo e sutil

Com lágrimas nos olhos demais

Ela para o pianista olhou e sorriu

E o músico não esqueceria jamais

Que o traço antes gentil

Tomou aspectos mortais

E o grande mar se abriu

Com o poder de mil vendavais

A moça pulou e caiu

Sumindo em meio aos corais.

Escute com atenção

A música vinda do mar

Mas não siga a direção

ou pode se afogar.

Vez em quando, volta e meia

Aquele que desafia sua sorte

No mar baixo ou em maré cheia

Seja fraco ou seja forte

Mesmo aquele com coragem em sua veia

que tem o nado como esporte

Nunca mais pisa na areia

Vindo do sul ou vindo do norte

Se surpreende, cai na teia

escuta algo que lhe importe

ouve o canto da sereia

e descobre a própria morte.

As lágrimas de sua tristeza

Tocaram a água do mar colossal

Mudaram sua natureza

Ontem doce, hoje sal.

O bar não tem a mesma alegria

o pobre pianista

Nunca achou a melodia

Para o que nos olhos pois a vista

Por conta da covardia

Abandonou a carreira de artista

Vive longe do mar, numa abadia

O outrora musicista

hoje tem hidrofobia

e vai no psicologista

Dia após dia

Cada banho é uma conquista.

Gabriell Araujo
Enviado por Gabriell Araujo em 28/02/2013
Reeditado em 02/05/2015
Código do texto: T4163640
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