Não sou.

Não existirão correntes que me amarre.

Não existirão muros instransponíveis.

Não existirão diferenças abissais.

Não existirão humilhações suficientes.

Capazes de fazer-me desistir.

Ainda que as lágrimas,

Quebrem os cristais

E, os encantos que se desfaçam.

Ainda que haja os calvários,

Vivos na memória,

Tatuando dores no expoente

mais perto do sol.

Ainda que exista a tortura.

De não ser mais amado.

Ou de nunca ter sido amado.

Ou de nunca ter se permitido amar.

Ainda que exista a latente vontade

Que morre exatamente quando acordamos

Queria novamente os seus olhos.

Queria novamente ter as

suas mãos em minhas mãos.

Num contato cúmplice sem palavras,

Sem gestos e sem olhares...

Sem nada.

Queria novamente um corpo emprestado

E sem alma

Um alojamento inesperado

Tépido e mórbido.

Para dormir a noite com a ilusão.

E, acorda queimando

pelo raiar das manhãs.

Queria novamente sonhar

Com o improvável,

o impossível e o

inverídico.

Como a mutação genética, histórica e

temporal de tudo

Em sua vida,

Em minha vida,

Em vidas que não conheci.

Retirar tudo que ficou.

Naquilo que impregnou as paredes da sala.

No cheiro da cozinha.

No degrau gasto da escada que não

vai a lugar nenhum...

Ao mesmo tempo em que queria

Sei que definitivamente não seria o melhor

E nem diferente.

Não seria bom ou decente.

Abro os braços e produzo

Meu próprio crucifixo

Em e com meu corpo

Em unção extrema.

Entregue ao infinito derramado

pelos dias vividos.

Vistos pela a miopia

de olhos errantes.

Abro minha mente.

Para todos os ventos,

Todas as tempestades,

Para todas as forças da natureza.

Para a correnteza das vontades,

Para a violência dos bofetões,

Para a vida e

paradoxos.

E a dinâmica pendular

da intensidade.

A começar e terminar sensações

sem sair do lugar.

Num só tempo

Numa só razão ou desrazão.

Assim, o corpo em crucifixo.

A mente aberta em primavera plena.

O espírito despontando do alto da montanha.

E numa reverência eterna paira o espírito sobre

desejo.

E, ainda ousa adivinhar quem sou.

Não sou.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 24/02/2013
Código do texto: T4156553
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