As coisas estão conspirando
De manhã eu já me levanto todo arrepiado
Feito gato quando vê cachorro.
O que estaria acontecendo com as coisas?
Cada dia que passa elas ficam mais coisadas.
O ar condicionado toca música
De carnaval bem antigo e a mesma;
O liquidificador me olha torto com banana
Entre os dentes ainda nem escovados.
A televisão aquece o ambiente
Com a programação chula de sempre,
Sempre tentando me fazer
Compras coisas que não preciso.
O fogão continua limpo, sem vontade
De cozinhar coisa nenhuma;
Principalmente carne de pescoço;
Coisa que mais tem na geladeira
Que, aliás, é a única que coisa que fica
Fria; mas liga e desliga para chamar
A atenção da fome dissimulada.
Me olha com aquela cara de caroço de abacate
Amanhecido sobre a pia; pensando:
“Que desta vez eu vou ficar fora do lixo”.
O computador me chama para
Para mais um maldito poema sem poesia.
Enquanto a poesia ri da minha rima “rica”.
O automóvel rosna feito um cão manhoso;
A padaria fica ali mesmo, tão pertinho
Mas ele quer ir comigo. Vive colado.
São tantas marcas que já fazem parte
De tudo o que eu sou.
Ainda bem que, para eles,
Eu sou a coisa mais importante.
Já me coisaram também. Eu nem tinha notado.