As coisas estão conspirando

De manhã eu já me levanto todo arrepiado

Feito gato quando vê cachorro.

O que estaria acontecendo com as coisas?

Cada dia que passa elas ficam mais coisadas.

O ar condicionado toca música

De carnaval bem antigo e a mesma;

O liquidificador me olha torto com banana

Entre os dentes ainda nem escovados.

A televisão aquece o ambiente

Com a programação chula de sempre,

Sempre tentando me fazer

Compras coisas que não preciso.

O fogão continua limpo, sem vontade

De cozinhar coisa nenhuma;

Principalmente carne de pescoço;

Coisa que mais tem na geladeira

Que, aliás, é a única que coisa que fica

Fria; mas liga e desliga para chamar

A atenção da fome dissimulada.

Me olha com aquela cara de caroço de abacate

Amanhecido sobre a pia; pensando:

“Que desta vez eu vou ficar fora do lixo”.

O computador me chama para

Para mais um maldito poema sem poesia.

Enquanto a poesia ri da minha rima “rica”.

O automóvel rosna feito um cão manhoso;

A padaria fica ali mesmo, tão pertinho

Mas ele quer ir comigo. Vive colado.

São tantas marcas que já fazem parte

De tudo o que eu sou.

Ainda bem que, para eles,

Eu sou a coisa mais importante.

Já me coisaram também. Eu nem tinha notado.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 17/02/2013
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